“O GRUPO SEARA NOVA quer semear em proveito coletivo, e não colher em proveito próprio.” Eis um dos princípios constante do primeiro número.
No dia 15 de outubro de 2021 a revista Seara Nova completou 100 anos de ação e pensamento crítico e, somente entre 1921 e 1984, passaram pelas suas páginas mais de 3. 000 colaboradores: mulheres e homens, nacionais e estrangeiros, das mais diversas áreas do saber e conhecimento… filósofos, escritores, poetas, artistas plásticos, musicólogos, cientistas, os maiores vultos da cultura.
Para além da publicação da revista, saliente-se a intensa atividade editorial, entre 1921 e 1984, com aproximadamente 600 títulos publicados, sendo uma das principais chancelas editoriais portuguesas do século XX.
O 1º número da Seara já referia em 15 de Outubro de 1922:
“… para que se erga, acima do miserável circo onde se debatem os interesses inconfessáveis das clientelas e das oligarquias plutocráticas, uma atmosfera mais pura em que se faça ouvir o protesto das mais altivas consciências, e em que se formulem e imponham, por uma propaganda larga e profunda, as reformas necessárias à vida nacional.”
E, em 30 de Outubro de 1930, António Sérgio, Jaime Cortesão e Raúl Proença escreviam na revista:
“Foi sempre uma ideia básica, defendida por todos nós, a da necessidade absoluta de vastos movimentos de opinião pública, de prévios estudos de problemas concretos, de um esforço paciente para persuadir, e sempre considerarmos a sociedade, nas nossas doutrinas sociais e políticas, não à imagem e semelhança de uma rocha ou de uma coisa (…), mas como uma associação de consciências livres, e acessíveis, como tais, à influência salubre das ideias claras”.
Em Outubro de 1971, o Editorial afirmava:
“A tentativa de participar na vida política é para nós um dever cívico e moral. Mas na Seara não constituímos nem queremos constituir partido político, delegação de partido ou coligação de partidos. Do mesmo modo, recusamo-nos a dar aqui guarida às particularistas guerreações dos partidarismos e dos sectarismos entre democratas, que implacavelmente condenamos, norteados pelos objectivos comuns do movimento democrático”.
É esse o segredo dos 100 anos e de muitos que hão de vir!
A Seara Nova foi sempre um espaço de diálogo, de abertura às ideias do progresso, de rigor ético, de investigação e de divulgação cultural.
Lutou pelas liberdades e pela democracia, contra a ditadura salazarista e marcelista, a repressão, a perseguição e a censura, tendo a sua sede sido desmantelada, e os seareiros presos e exilados.
Saudou o Movimento das Forças Armadas, braço da Revolução dos Cravos, através de um artigo, saído em Maio de 1974, redigido pelo que haveria de ser Prémio Nobel, José Saramago e defende, hoje como ontem, os valores da Liberdade e da Democracia, pois o perigo está sempre latente…
A sua seção Factos e Documentos, adaptada ao longo dos anos ao papel da revista, inseria textos publicados na imprensa, com realce para o período entre 1968 e 1974, reproduzindo discursos do Presidente da República Américo Tomaz, atestando bem as suas limitações intelectuais:
“Comemora-se em todo o país uma promulgação do despacho número Cem da Marinha Mercante Portuguesa, a que foi dado esse número não por acaso mas porque ele vem na sequência de outros noventa e nove anteriores promulgados…”.
E numa visita, de corta fitas, a uma localidade, o que era frequente:
“É a primeira vez que cá estou desde a última vez que cá estive…”.
Em Maio de 1966 o lápis azul da Censura chegou a cortar, nas Declarações do Mês, palavras do próprio Prof. Oliveira Salazar:
“E a tão desejada visita a Angola? Pois parece-me bem deixá-la para o momento em que, dominado ou expulso o último terrorista, ali possamos celebrar o heróico esforço da defesa.”
O Programa Comemorativo do Centenário integra, uma exposição (inaugurada em Lisboa, percorrendo o país, designadamente, passando por Coimbra, Aveiro, Porto, Braga, Vila Real, Faro, Setúbal, Évora e Santarém), vários colóquios, um documentário já transmitido na RTP, uma medalha comemorativa, uma emissão de selos postais, para além de muitos outros eventos, inseridos no Programa, que é possível de consultar nas revistas deste ano e no site da Seara Nova.
Referência imprescindível para o número especial de Outono de 2021, onde se pretendeu, através de artigos cuidados a que aderiram personalidades de prestígio reconhecido, nas suas áreas, fazer uma panorâmica do Portugal de hoje.
Realce também para a consulta possível das várias revistas desde 1921 até 1984, graças ao Centro de Humanidades da Universidade Nova de Lisboa, através
da Coleção Revistas de Ideias e Cultura, sendo preocupação completar esse importante trabalho.
Acompanhando o desenvolvimento dos meios tecnológicos mantém um site, recentemente reformulado, e outras formas de divulgação online
Os princípios, que espelham o “espírito seareiro”, constam do primeiro número e continuam, porque atuais, como farol e suporte de agregação:
“… queremos constituir na Seara Nova um núcleo de homens de boa consciência e vontade enérgica dispostos a assumir, perante a expoliação, a rapina, o egoísmo e a mentira nacionais, uma violenta e sistemática atitude de protesto.”
“O GRUPO SEARA NOVA quer semear em proveito coletivo, e não colher em proveito próprio.”
“O GRUPO SEARA NOVA não olha o Passado, marcha resolutamente para o Futuro.”