O inferno são os advogados
por Rui Gustavo
Jornalista do Expresso
Confesso que a grande dúvida que procurei esclarecer quando fui confrontado com este inquérito foi: de mesmo modo que a humanidade é boa mas o problema são as pessoas; a advocacia é ótima mas o mal são os advogados? A resposta parece óbvia: tirando algum joio que a Ordem tem muitas dificuldades em separar, a qualidade do trigo é boa. Sou testemunha disso. Já vi advogados a esfarraparem-se por clientes e a suar a camisa de bom corte que por regra usam debaixo da batina.
Mas a vida não está para otimistas: segundo este inquérito da Ordem dos advogados, 52 por cento dos “respondentes” têm dúvidas sobre a honestidade e a credibilidade dos advogados. Isto nem sequer são qualidades, é a obrigação mínima de qualquer pessoa. Pior: mais de metade dos advogados está arrependida de ter escolhido a profissão e uns inacreditáveis 64 por cento têm uma visão “crítica” do cumprimento das regras deontológicas por parte

Autor: Rui Gustavo
Jornalista do Expresso
dos colegas. Talvez por tudo isto, um terço dos advogados não confia na justiça. É como se os anjos não confiassem no trabalho do Senhor.
Eu, se fosse advogado, preocupava-me bastante com estes resultados. Melhor, faria uma introspeção ou reflexão séria sobre este sintoma que é sinal da pior doença que pode afetar o sistema judicial: a falta de confiança.
Talvez, e este é um grande talvez, um dos males da advocacia seja a enorme dificuldade que a ordem tem em punir e afastar os colegas que traem a profissão e os clientes. Desta vez não falo de cor: conheço casos de advogados condenados na justiça que continuam a exercer a profissão ou magistrados expulsos por comportamentos criminosos que veem na advocacia um refúgio seguro. Não pode ser possível.
Sem querer contrariar números, custa-me muito a querer, ou recuso-me mesmo a acreditar que metade dos advogados não cumpra o juramento que faz no dia em que entra na Ordem.